O Brasil é conservador
Carlos Ramalhete
O dado
mais importante dentre os divulgados pelo IBGE acerca do Censo de 2010 está nas
entrelinhas: é o conservadorismo do povo
brasileiro. Além das estatísticas evidentes, como a que mostra que os ateus
são um porcentual minúsculo da população — um passageiro em cada sete ônibus
lotados é estatisticamente ateu —, a própria variação intra-religiosa mostra o
crescimento das denominações mais conservadoras.
A
Igreja Católica, ainda às voltas com a
crise que a fez perder a identidade social de 1970 para cá, perde fiéis
para as denominações protestantes mais conservadoras, como as “assembléias de
Deus”. As novas religiões orientais — em geral formas exóticas de “religiosidade”
desestruturada, na leitura feita por seus membros — não chegam a um quarto do
número de ateus.
Sendo o
Brasil um país de cultura católica, no entanto, vale mostrar que aqui se é “assembleiano”
ou “seicho-no-iê” de forma muito mais
católica que a dos países de origem destas religiões. O protestante brasileiro é mais católico, na sua forma de ver o
mundo, que o católico americano; seu
protestantismo é, geralmente, uma expressão de temperamento pessoal que encontraria facilmente lugar na Igreja
Católica, se ela não estivesse ainda predominantemente nas mãos do misto de
hippies velhos e revolucionários comunistas que se apoderou de sua hierarquia
há 40 anos. Ao mesmo tempo, a
cultura de massa, dominada por uma minoria ínfima de ateus e vagos “espiritualizados”,
trata a massa de conservadores como ignorantes a “educar”. Na política,
esta ínfima minoria também domina a
prática legisladora (parlamentar e, agora, judicial).
Esta
maioria esmagadora de conservadores, contudo, está se elevando socialmente com
a criação de uma nova classe média. A classe média tradicional, cujos filhos abandonaram os valores da
sociedade ocidental e compõem quase exclusivamente a minoria ateia,
encontra-se assediada por conservadores, oriundos das classes mais baixas.
Dentre
os muitos universitários cujos pais não cursaram ensino superior — os
recém-chegados à classe média —, a maioria é religiosa e conservadora. A nova
classe média abraçaria feliz o udenismo abandonado pela classe média
tradicional, ou mesmo alguma forma ainda mais forte de conservadorismo.
Enquanto isso, a mídia e a política
continuam com as portas fechadas para o pensamento conservador; enquanto isso, a revolução que não se
conseguiu fazer pelas armas é feita por decisões judiciais e votações secretas.
A elite perdeu o bonde, e é um bonde conservador.
( Gazeta do Povo, Curitiba, quinta-feira, 5 de julho de 2012).
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